Pouco antes das urnas serem fechadas, FHC fez uma declaração: afirmou que os eleitores do PT concentram-se nos “grotões da pobreza”, e consequentemente são os “menos informados”. Mais uma vez o velho doutor da USP, membro da academia brasileira de letras foi demonizado por sua declaração. Como é de praxe, o petista não argumenta, não questiona ideias, somente escorraça, ataca, destrói tudo e a todos que são contrários ao petismo. Mas nada melhor que um dia após o outro. Com a abertura das urnas, o resultado foi estarrecedor, assim como tinha preconizado FHC, o grosso dos eleitores do PT, concentram-se de fato, onde estão os “grotões da pobreza”, e os “menos informados”
O PT ganhou de braçada em estados, regiões e cidades pobres, com baixo IDH e pouco desenvolvidas, mas sofreu derrotas acachapantes em estados, regiões e cidades ricas, desenvolvidas e com IDH alto. Venceu com folga no Piauí, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Ceará, em regiões como o norte de Minas Gerais, mas perdeu de goleada em São Paulo, Paraná, Santa Catariana como também em regiões do centro oeste, as quais cresceram vigorosamente com o agronegócio. O PT eou nas 10 cidades mais pobres do Brasil, mas foi atropelado nas 10 cidades mais desenvolvidas do país. Até naquelas governadas pela esquerda, porém desenvolvidas, como é o caso de Jundiaí, o PT recebeu parcos 28,96% dos votos, o mesmo se repetindo em cidades consideradas o berço do petismo como Santo André, São Bernardo e São Caetano. O PT foi massacrado em Belo Horizonte onde Dilma nasceu, foi derrotado em Porto Alegre onde Dilma viveu e até em Brasília onde vive.
Francisco Morato foi uma das raras cidades da Região Metropolitana de São Paulo que o PT saiu vencedor, coincidentemente, Morato é a cidade mais pobre da Grande São Paulo. O PT foi quase varrido na capital paulista, mas em regiões periféricas como o extremo da Zona Leste, venceu, e venceu com muita folga. As urnas deixaram claro que a pobreza e a desinformação andam lado a lado, não é por menos que a campanha eleitoral coordenada pelo marqueteiro João Santana concentrou toda sua munição sobre a massa pobre e desinformada, com ataques pessoais, baixarias, mentiras. Uma implacável campanha do terror nunca antes vista na história do país.
Marina por exemplo, com escasso tempo no rádio e TV foi moída pelo marketing petista. No 2º turno, de 22 inserções publicitárias 19 eram destinadas a escorraçar o senador tucano. Santana sabia que não mais de 12% do eleitorado eram ainda ideológicos, a rigor, independente do que o PT fez, faz ou fará, os petistas fanáticos continuariam votando e defendendo o partido. Mas engana-se quem ainda acha que o petismo conquistou uma grande vitória, os números não deixam margens para dúvidas. Dos quase 143 milhões de eleitores aptos a votar, pasmem, apenas 38% votaram no PT no 2º turno, os demais votaram pela mudança, votaram em branco, anularam o voto ou nem sequer compareceram para a votação. Detalhe, justamente num país onde o voto é obrigatório a presidente foi ungida com apenas 1/3 do eleitorado, sendo que o grosso desses eleitores concentram-se nos “grotões da pobreza” e na “desinformação”.
Com o fim da “ilha da fantasia petista” no rádio e TV, o debate hoje se encontra em outro nível, o pobre desinformado é deixado de lado, o que está na mesa nem sequer é o meio utilizado para a vitória nas eleições, e sim, como se manter no poder.
A oposição, no entanto, saiu muito fortalecida das urnas, querendo ou não o senador mineiro volta para o Senado com um patrimônio de 51 milhões de votos do Brasil desenvolvido, votos de um país que clama por mudanças, da grande massa esclarecida e indignada. E de caixinha o novo grande líder da oposição chega com mais 7 senadores do PSDB e DEM. Já no congresso, a bancada dos conservadores e cristãos teve um crescimento de 42%. O direitista Bolsonaro foi o mais votado no Rio de Janeiro, pastor Feliciano o 3º mais votado em São Paulo. Enquanto a “esquerda caviar” defensora da legalização da maconha, do abordo, do casamento entre homossexuais, da desmilitarização da PM, da manutenção da maior idade penal, do controle da mídia, encolheu 23%. Soma-se a isso a mágoa da base aliada envolvida até o pescoço em denúncias de corrupção e agora, até Dilma e Lula sendo citados.
Neste cenário, qual o caminho? Investir no gerenciamento da miséria, ampliando a “bolsa-qualquer-coisa” visando assim a pavimentação para o “volta Lula”? Ou mudar radicalmente a velha política atrasada indo em busca da crescente massa de eleitores críticos? De fato, o discurso do ex-presidente palanqueiro, populista e demagogo tem ainda forte efeito na massa desinformada, mas entre os esclarecidos não a de reles “palhaço barbudo”.
Da mesma forma que Brasil mudou radicalmente nos anos 90 comparado com os anos 70, também viu mudanças nos últimos 20 anos. A questão é, que tipo de aluno estaremos formando para enfrentar esse novo mundo cada vez mais competitivo? Até quando a escola continuará empurrando alunos para o mercado de trabalho sem a menor qualificação, dando assim sua valiosa contribuição para a manutenção do status quo desse governo corrupto, de companheiros e que cada vez mais depende de eleitores emburrecido e dependente de assistencialismo?